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Quando a luta de classes e o combate ao sistema saem de pauta, a coisa fica preocupante  Foto: Reprodução Ela tem sido chamada de...

Quando a luta de classes e o combate ao sistema saem de pauta, a coisa fica preocupante 

Foto: Reprodução


Ela tem sido chamada de várias formas. Esquerda cirandeira, esquerda festiva e até de esquerda gregório-duvivierizada eu já ouvi falar. Prefiro manter a alcunha de esquerda pós-moderna. Primeiro que bate mais pesado, atinge com mais intensidade essa “new left” que tem ganhado um enorme espaço no cenário político brasileiro atual, principalmente entre jovens estudantes, universitários e secundaristas, e políticos que tiveram e têm certa voz nesse espectro.

“Pós-moderno” é forte. Lembra Baumann, modernidade líquida, aquela futilidade, relações e ideais descentralizados, o pessoal que gosta de transformar posição política em status quo. Para muitos, até pega mal dizer que não pensa dessa forma.

Além de ser caçadora de likes com seus “memes combativos”, essa nova esquerda, com a atual crise política, também tem se mostrado extremamente governista. E de forma chula. Não, não me refiro a lutar a favor da democracia. Isso é de interesse de todos. É a famosa “peleguice”, para os esquerdistas mais velhos.   

Existe uma defesa quase que indireta do PT feita pela esquerda brasileira (ou grande parte dela) nessa questão bem complexa da crise política e na iminência do quase sacramentado Golpe de Estado parte II, que demanda de forma também quase exclusiva de uma defesa à democracia, que foi conquistada após vários esperneios e sangue alheio depois do Golpe de Estado parte I. Veja: há algo maior. Muito maior. O PT não merece essa defesa, que é mais colocar-se contra a direita conservadora, liberal e golpista do que qualquer outra coisa. Ou pelo menos essa deveria ser a intenção.

O PT se aliou com o que há de pior na sociedade brasileira. Grandes empresários, grandes corporações, políticos corruptos e mal-intencionados – que por acaso querem derrubá-lo agora. E o mesmo PT também já declarou que, caso se mantenha no poder, ainda pretende manter um pacto com esses mesmos setores!

E além de tudo isso, já teve Golpe. Não há mais o que se fazer. Outras lutas estão aí para terem suporte da esquerda. Mas não. Parece que ela descobriu o PT há pouco tempo e ainda está passando por aquela época que todos têm de amar o partido e as (ótimas, em partes) coisas que ele fez. Ou que são guiadas por partidos/movimentos/coletivos alinhados com os do Partido dos Trabalhadores.

Outra característica desse grupo recente é a forma tão simplória e bonitinha que lidam com todas as questões que envolvem o papel da esquerda na sociedade. Tudo se resolve de maneira fácil, em sua visão. Ou pelo menos se combate de maneira fácil. Eles procuram um protagonismo de si próprios, e utilizam o ideal mastigado de esquerda como um alavancamento de suas próprias reputações, um destacamento no próprio grupo e na comparação com outros.

Torço e pleiteio por uma esquerda que saiba ter bons discursos, ideais fortes e base popular crítica, mas que também tenha o ímpeto de agir fisicamente quando necessário, por exemplo. E não fique só fazendo poeminha, sarauzinho paz&amor, caçando quem não troca a vogal que indica gênero por “x” e debatendo novos super-nomes para identificar novos gêneros. Ou ocupando o vão do MASP com 50 pessoas pra gritar “Não vai ter Golpe!” para um Golpe que já teve. Enquanto aluno leva cassete de policial militar – ordenada por Geraldo Alckmin – na resistência das ocupações escolares.

Hoje, a base popular de esquerda é composta, praticamente, de estudantes secundaristas que estão tendo a coragem de peitar as autoridades do estado e reivindicar seus direitos como juventude. São eles que estão ocupando, que estão gritando, resistindo, levando porrada e mantendo a dignidade. Não se escondem atrás de chavões ou lugares-comum. Eles estão sendo esquerda.

E uma coisa curiosa que podemos observar atualmente, principalmente nas redes sociais, onde a expressão de opiniões e ideias é bem concentrada, é que essa esquerda pós-moderna reivindica a luta diária contra o racismo, o machismo e a homofobia – algo absolutamente válido e necessário –, mas nunca lembra do combate ao capital. Para a “new left”, derrubar o capitalismo nem tem sido mais pauta, como se todas as outras lutas não demandassem da exploração do capital em todos esses séculos.

A cada dia, mais pessoas aderem a isso. Talvez por não se envolverem com os fascistas de plantão, de quem todo mundo quer passar longe, mas também para não ter de sacrificar coisas que a esquerda, em sua origem, exige. Ninguém mais toca em luta de classes. Ninguém nem ao menos menciona a revolução. Coraçõezinhos e depoimentos positivos de reformas recentes feitas no estado capitalista parecem ser a solução da desigualdade social.

Preguiçosa, despolitizada ou “fofa” demais para assumir uma posição combativa? Não sei. Mas a esquerda pós-moderna se afasta cada vez mais da classe trabalhadora, e adora tomar distância quando o tempo fecha para alguém que desafiou o sistema – como foi o caso dos estudantes. É uma esquerda que se humilha por defender quem já a abandonou faz tempo, e assim se esquece de onde ela se originou. Ou ninguém chegou a ensinar isso para ela.   

Se dependermos dela, não veremos muitas mudanças futuras. Além de sua mania de acariciar o sistema capitalista com sua maneira tola e academicista de lidar com os problemas sociais, ela vira as costas para a verdadeira luta da esquerda. A luta do povo, dos trabalhadores, do proletariado, que sofre e não tem tempo e paciência para suas voltas e reviravoltas, suas falaciosas formalidades, sua idealização de mundo cor-de-rosa, sem tocar em seus privilégios e virar o sistema de ponta-cabeça. Com eles, a já desgastada “virada à esquerda” vira discursinho vazio. Vira conversa de rodinha com violão no parque ensolarado. É de fazer Marx, Engels, Gramsci e Lênin se revirarem no túmulo.

Bloqueio do aplicativo Whatsapp nos dá indícios preocupantes da nossa dependência virtual e vulnerabilidade política tecnológica Ne...

Bloqueio do aplicativo Whatsapp nos dá indícios preocupantes da nossa dependência virtual e vulnerabilidade política tecnológica



Nessa segunda feira (2) chegou uma notícia aos usuários do Whatsapp de que o aplicativo seria bloqueado por 72 horas, o comunicado deu a impressão de um começo de pandemônio, de forma exagerada, que talvez só não tenha ocorrido por existirem outras ferramentas, como o seu dono Facebook, e pelo fato de não ter sido cumprido nem metade do que foi imposto.

A decisão do bloqueio foi ordenada pela justiça do Sergipe (SE) que entendeu uma falta de cumprimento do Facebook com a lei do Brasil, já que foi pedido o compartilhamento de informações que subsidiariam uma investigação criminal. O Juiz Marcel Maia Montalvão, da vara criminal de Lagarto, ordenou que as maiores operadoras do país bloqueassem o aplicativo com a consequência de multa diária de 500 mil reais caso esse pedido fosse visualizado e não respondido.

Toda essa situação levantou a esse editor alguns pontos preocupantes, e o primeiro a ser tratado é o social. Estamos tão dependentes da internet e do aplicativo em questão, que a medida fez algumas pessoas quase entrarem em circuito. Eu mesmo presenciei uma cena bisonha onde uma mulher pedia para sua amiga respondê-la no aplicativo assim que ele voltasse a funcionar, sendo que as duas estavam uma do lado da outra no ônibus.

Confesso que até eu fiquei meio perdido e acredito ser normal que a ausência da maior ferramenta de comunicação da atualidade crie uma sensação de desnorteamento social, porém, chegar ao ponto basicamente de se calar chega a ser doentio.

Vamos ao que nos interessa que é a política por traz dessa situação. Quando você manda uma mensagem pela primeira vez a algum contato, aparece esse comunicado “As mensagens que você enviar para esta conversa e ligações agora são PROTEGIDAS com criptografia de ponta-a-ponta, o que significa que elas NÃO podem ser lidas pelo WhatsApp ou por terceiros.”.

Dificilmente as pessoas clicaram em “saber mais” nesse comunicado, lá está escrito que “Muitos aplicativos criptografam mensagens entre você e eles próprios, já a criptografia de ponta-a-ponta do WhatsApp assegura que somente VOCE e a PESSOA com qual você está se comunicando podem ler o que é enviado e NINGUEM mais, nem mesmo o WhatsApp.”.


Que as empresas devem se adaptar as leis do nosso país, sejam elas de qualquer parte do mundo, eu nem entro no mérito. O questionamento que faço é até que ponto os nossos políticos estão preparados para lidar com o meio virtual? Ou melhor, até que ponto eles querem lidar com essa mídia? Porque essa posição do Juiz de Sergipe mostra-me certa falta de preparo legislativo, visto que segundo ele, a medida cautelar foi baseada no Marco Civil da internet.

Me vem à mente também a fragilidade do sindicado das operadoras (Sinditelebrasil), que nem juntando forças conseguiu lutar contra a imposição. Às vezes a democracia funciona no país, estamos acompanhando o processo de Impeachment da presidenta Dilma, já em outras situações a escolha da maioria se torna a ditadura de quem tem a maior patente, que foi o acontecimento nessa situação. Vivo, Claro, Tim, Oi e Nextel não concordaram com a medida tomada, mas foram obrigadas a acatar por causa da multa estipulada, isso é democracia?

A atitude que foi tomada só deixou evidente como nosso país está despreparado com o serviço secreto de inteligência, não daquelas que os Estados Unidos fazem em celeiro mundial, mas sim dentro do próprio país que é, sem dúvida, a melhor saída na resolução do que pediram ao WhatsApp. Em pleno século XXI, o Brasil não pode depender de empresas multinacionais e simplesmente querer que elas se adaptem as nossas leis, ainda mais quando essas leis não são revisadas na mesma velocidade que a internet evolui.

Empresas também tem suas leis de privacidade e todos precisam entram em um consenso, eu mesmo me sinto muito mais seguro com a posição de privacidade do WhatsApp, não que eu deva algo a alguém ou porque gosto de receber os famosos “nudes”, simplesmente por achar que o que eu converso não é de importância da empresa, eu só usufruo do seu serviço. Sou a favor do estado ter o controle sobre a comunicação, até da presidenta, para um controle de situações como essa que foi usada como motivo para bloquear o aplicativo.

Como já diz o ditado “Não a nada que esteja ruim que não possa piorar” acredito que não tenha frase que esteja servindo mais no momento político atual brasileiro. Logo após o desbloqueio do aplicativo, começou uma briga de interesses, na minha visão, quando a ministra Nancy Andrighi determinou a abertura de reclamação disciplinar contra o Juiz Marcel Maia por “abuso de poder”.

A população ficou indignada com a medida, com toda razão, diga-se de passagem, mas denominar como abuso de poder já vejo um pouco de exagero e uma forma de mostrar ao povo que alguns políticos estão se movimentando contra o assunto, mesmo que seja só para não deixar a pequena faísca se apagar. O que aconteceu não foi abuso de poder e sim falta de preparo do estado e da justiça.

O Facebook se posicionou de forma correta ao meu ver e ascendeu um sinal de alerta a política digital do nosso país. O despreparo pode custar a nós, população, nossa liberdade de expressão virtual, que em muitas vezes é exagerada e usada para crimes, mas que não pode simplesmente ser banida. O problema em si não é só ambas as leis, e sim a base de qualquer estrutura social, a educação. A internet precisa ser usada tanto para a comunicação quanto pelo governo, quando essa comunicação se torna perigosa pro estado. Nós só não podemos deixar que limitem nossa comunicação a 140 caracteres.

A mídia tradicional não está sendo leal e trata do assunto da mesma forma que tratou como baderna as manifestações de julho/2013 Fonte:...

A mídia tradicional não está sendo leal e trata do assunto da mesma forma que tratou como baderna as manifestações de julho/2013

Fonte: Ubes

Eu gostaria de propor um teste: que os alunos das universidades, ao final do seu primeiro ano, se submetessem de novo ao vestibular, sem se prepararem. Para ver o que restou de tudo o que tiveram de aprender.
Esse teste mostraria a tolice psicológica e pedagógica que é obrigar os jovens a aprender aquilo que não faz sentido, isto é, os conhecimentos que eles não vão usar como ferramentas.
Aí alguém me contestará: “Mas pode ser que eles venham a usar esses conhecimentos, numa ocasião futura”.
Imagine que você tem uma caixa de ferramentas. Você quer que a sua caixa de ferramentas seja útil para o seu trabalho. Aí você consulta um catálogo de ferramentas e encomenda todas as ferramentas existentes, sob a justificativa de que você, eventualmente, precisará de uma delas. Chegam as ferramentas e você descobre que elas não cabem na sua caixa.
Conclusão: não é possível carregar todas as ferramentas que hipoteticamente se poderá usar na limitada caixa de ferramentas que possuímos e que se chama cérebro. Inteligência não é possuir todas as ferramentas. Inteligência é possuir poucas (para andar leve), e saber onde encontrar as que não se têm, na eventualidade de se precisar delas.
Sabedora não é ter. É saber onde encontrar. – Por uma educação romântica, Rubem Alves.

A ocupação do Centro Paula Souza, pelos estudantes é pautada pela ausência de restaurantes em algumas Etec’s, corte nas verbas, problemas estruturais e suspeita de fraude na compra de comidas para escolas estaduais. Motivos válidos e louváveis.
Ano passado nas escolas estaduais em SP os estudantes se apoiaram no projeto do governo estadual de fechar salas e escolas para realizar as ocupações.
Mas, se aprofundando no tema veremos que o motivo estrutural é mais profundo e problemático.
O modelo de ensino retrógrado da década de 50 dá o tom do quão defasado estão as escolas em relação ao aluno.

No texto citado, Rubem Alves explica que de nada adianta ter várias ferramentas e não saber como usá-las. Aulas didáticas empregando a vontade\aptidão do aluno, já deveria ser uma realidade.
Quantas fórmulas exatas com os nomes mais complexos possíveis, você lembra? Ou pior, usa?
O direcionamento profissional deveria começar no ensino fundamental e sendo aperfeiçoado no médio. Perdemos 15 anos de nossas vidas decorando fórmulas e histórias que talvez nunca usemos.
Do que vale para um engenheiro químico saber que o Egito é banhado pelo rio Nilo, talvez se ele for curtir as férias lá um dia seria até interessante saber disso, mas não seria mais fácil ele buscar essa informação ao invés de passar anos estudando?
O mesmo me refiro à, do que me vale ter aprendido a fórmula de Bháskara, se o que mais faço hoje é escrever palavras e não resolver cálculos.
Aulas mais dinâmicas, que rompessem a barreira dos quatro cantos, atrairiam mais os alunos, diminuiria o alto índice de evasão escolar. Com isso, conseguiriam de certa forma atrair mais os alunos para atividades culturais e dinâmicas, que exercessem as dificuldades e aptidões dos alunos.

Fonte: Diário do litoral
E porque tudo isso acontece?
Os alunos estão entendendo que de nada serve esse tempo mal gasto nas escolas. Enquanto os políticos apresentam gráficos de que a educação brasileira melhorou 0,001%, os alunos sentem que ela está cem vezes pior.
Os profissionais dessa área que são os mais afetados estão vendo cada vez mais medidas sendo tomadas para minar os seus direitos ao mesmo ponto em que seus deveres são cada vez maiores e mais pesados.

O sucateamento do ensino público é um tema debatido há tempos, e que cada vez mais ganha respaldo de que realmente venha a ser uma realidade.
Basicamente consiste em, deixar o pior cenário possível educacional a fim de privatizar a educação pública. O local onde a escola é construída (que na maioria dos casos são áreas que a prefeitura\governo paga aluguel para o proprietário), salários de professores e funcionários públicos concursados da educação, materiais escolares, patrimônios escolares, merenda, entre outros, são gastos que a prefeitura\governo têm com as escolas. Os políticos não podem simplesmente virar as costas e deixar piorar a situação de uma vez, porque isso representaria votos. Mas também não querem dar um jeito na educação, porque o mais interessante agora é privatizar e deixar que alguma outra entidade tome conta, tirando assim o peso das costas.
Mas seria ainda mais danoso, uma vez que a educação é tratada como lucro, ela deixa de ser voltada para a sua base que são os alunos e foca apenas no lucro da empresa. Ou seja, quanto mais rápido e mais barato, melhor.

Os motivos legais pelo qual as ocupações têm acontecido são motivos presentes e válidos. Mas o real problema é implícito, o inimigo tem nome, rosto, partido e até músicas cantadas nas ocupações.

Fonte: Itapira News

Em um momento no qual todos esperavam um retorno do partido ao seu berço, longe da direita, o partido só mostra mais politicagem e falta de...

Em um momento no qual todos esperavam um retorno do partido ao seu berço, longe da direita, o partido só mostra mais politicagem e falta de coragem


Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação.

Desde os anos 80, o PT talvez seja a sina, o carma e a musa da esquerda brasileira. Ou parte dela. Primeiro, como símbolo da luta trabalhista, de uma guinada ao “socialismo” (mesmo que moderadíssimo – se é que isso existe –, como visto algum tempo depois, com políticas centristas), de uma liderança sindical no poder executivo, algo impensável naquele momento, ainda mais em um Brasil pós-ditadura militar.

Depois, como uma real possibilidade do país se ver, pelo menos em partes, longe de políticas essencialmente neoliberais, como as privatizações, ou que atingissem aos direitos trabalhistas. O PT era a esperança de um povo que até ali era miserável, tanto em questões econômicas como também de amparo.

Muito foi feito, admitamos. Lula foi um grande presidente, como ícone e gestor. Soube articular, mesmo que não seguindo os preceitos mais dignos da moral, seus apoios e o que era necessário para fazer o que queria. Fez. E muita gente gostou, elogiou, abraçou a ideia. Muita gente não – muitas vezes porque incomodava o próprio bolso. Ou a própria ética.

Depois veio Dilma, a sucessora forçada de Lula, que se viu sem opções para seu trono. O PT continuando na área, com o slogan seguindo literalmente à risca o que estou expondo: “Renova a esperança”. Era a expectativa de todos – inclusive a minha, mesmo com alguns pés atrás.

E Dilma Rousseff se mostrou uma má administradora. Isso foi claro. Mesmo com sua honestidade, sinceridade e toda a sua personalidade e entusiasmo. E todas as suas péssimas decisões enquanto presidenta, acrescentadas à sua grande teimosia e incapacidade de articulação, permitiram aos “cobrões” de sempre, e pra sempre, enxergarem uma bela estrada até o poder.

Claro, todo o processo de volta aos 90 (80, 70...) e a iminência de se perder todo o pouco que o PT fez e podia fazer, não ocorreu antes do próprio PT fazer isso. O Partido dos Trabalhadores se tornou de centro, e nos últimos anos tem virado, deliberadamente, as costas para aqueles que os puseram e os mantiveram no poder. Não estou dizendo que a vida de Dilma enquanto chefe do Executivo foi fácil – e ela até impediu coisas piores de acontecer –, mas não pode se considerar como “governo de esquerda” uma gestão que enriquece banqueiros, que faz conchavos cada vez mais profundos com empresários, e que vende a alma tão barato a outros sanguessugas, como tem ocorrido nos últimos 6 anos.

E com o Golpe de Estado quase sacramentado, a posição do partido e da presidenta quanto à situação são absolutamente deploráveis. Primeiramente, em um momento em que todos assistiram aos mesmos ratos com que o PT se juntou, unindo-se para abocanhá-lo, é decepcionante não ver o partido se voltar para aqueles que sempre estiveram ao seu lado. Não mudaram as políticas de direita, não abraçaram os movimentos sociais e a ruas, não tentaram nada.


Foto: Divulgação.
Foto: Divulgação

Onde está a caminhada pelo Brasil que Lula prometeu fazer logo depois que foi tomado de assalto pela Polícia Federal? Dilma, então, balbucia aqui e ali um tímido “É Golpe!” em reuniões mais, digamos, particulares e intimistas, mas quando chega à ONU, frente a líderes mundiais, cujos países vêm denunciando o atentado contra a democracia que o país vem sofrendo, a presidenta recua com um discurso frouxo e broxante.

Quem vem defendendo a democracia e pedindo a saída dos arquitetos do Golpe (Cunha, Temer, Mendes etc.) é a própria esquerda contra a qual o PT virou a face. E não me refiro àqueles que vivem pensando fora da caixinha e bradando por causas absurdas. Posso até mesmo citar aqueles que só queriam uma reforminha no sistema em um cantinho ou outro.

É de conhecimento pleno de quem exerce o senso crítico de que Michel Temer e sua trupe irão sucatear o país. A tal ponto que as pessoas irão sentir falta do PT. Será essa omissão uma estratégia para vir forte nas eleições de 2018, como contraponto a um Governo que, apesar de apoiado por diversos setores influentes da sociedade, consegue ser mais desastroso ainda – ou em eventuais Eleições Gerais antes disso?

Se sim, o PT mostra o que se tornou. Mais um dos peões desse jogo de xadrez que começa e termina dentro do Palácio, e que em nenhum momento lembra das ruas e de seu povo – apenas quando é conveniente. É o touro que se finge de morto frente ao desalmado toureiro para se vingar em seguida, e não o que luta até a morte e busca a vitória apenas pelo fato da causa ser nobre e muito maior do que o triunfo em si. A esperança que antes só aguardava sua renovação, agora aguarda a eterna guinada à esquerda que nunca saiu e nem deve sair. Não esperançou, esperou. O vermelho desbota. Do PT e do Brasil.

Mais uma parada gay está por vir e a desvalorização da luta pelos direitos tende a persistir   Foto: Edu Cesar Não podemos igno...


Mais uma parada gay está por vir e a desvalorização da luta pelos direitos tende a persistir 

 Foto: Edu Cesar

Não podemos ignorar que o movimento moderno de defesa dos direitos humanos dos homossexuais tem início com uma revolta, uma luta contra a repressão por todos os lados. O número de mortes de pessoas LGBT é enorme, inclusive, o Brasil lidera o número de assassinatos em disparada, tendo uma morte a cada 28 horas e, 40% dos assassinatos de transexuais no mundo, ocorrem no Brasil, que belo ranking para estarmos, né? E pela falta de uma lei que criminaliza a homofobia, as queixas são registradas como uma agressão qualquer.  

A homofobia e o discurso homofóbico têm a mesma ideia de um discurso racista, só que não temos uma lei que nos protege, se tratar um negro diferente por causa de sua cor, a pessoa pode ser imediatamente presa, se alguém me agride por eu ser mulher, a mesma coisa, mas se alguém nos discrimina por causa da nossa sexualidade, não há uma lei que puna o agressor. 

A primeira parada gay, em 1970, surgiu para celebrar essa revolta, lembrar a luta, e marcar que os abusos não seriam mais tolerados. Enquanto os direitos humanos da população LGBT continuarem a ser desrespeitados, as paradas gays continuarão a existir, e mesmo se todos os direitos um dia forem assegurados, elas continuarão como um testemunho de todos que sofreram e morreram ao longo da história simplesmente por serem LGBT, e também em memória de todos aqueles que lutaram pelo fim da discriminação. E fora a luta para conseguirmos uma lei que nos proteja perante nossa orientação sexual, (e não, não é uma escolha) também estamos numa batalha incansável para conseguirmos os mesmos direitos de casamento que os casais heterossexuais possuem, afinal, quem quer casar tem que ter esse direito assegurado por lei. 

Parada Gay de São Paulo 2014 aconteceu no dia 4 de maio. Foto: Edu Cesar

Em 1997, a ex-senadora Marta Suplicy, colocou em pauta a lei de parceria civil, que implica na união entre pessoas do mesmo sexo e regula basicamente direitos patrimoniais decorrentes da união, que foi e voltou muitas vezes, mas acabou não dando em nada. Em 2011, o Supremo Tribunal Federal, estendeu a união estável para pessoas do mesmo sexo. Com isso estabelecido, casais gays puderam se juntar, tornando-se sucessores legais, integrados pelo plano de saúde, reconhecidos como dependente da previdência, tendo direito à pensão no caso de morte e herança. A união estável ajudou, mas não totalmente, por exemplo, o estado civil em cartório não é alterado e também não dá direito à mudança de nome.

 Em 2013, o conselho nacional de justiça declarou que a união estável tem que ter os mesmos direitos do casamento. Com igualdade de direito no casamento civil, casais homossexuais passaram a ter as mesmas garantias que os casais heterossexuais. O casamento gay, garantido pelo STF, é uma grande conquista, mas não é totalmente seguro, quem escolhe os ministros que compõe o STF é o presidente, ambos podem mudar, e sabe lá o que pode acontecer, né? O ideal é que essa lei seja aprovada pelo congresso, porque passamos a possuir um direito garantido por lei, e várias questões seriam resolvidas, como a adoção, licença maternidade/paternidade, e não dependeríamos da interpretação de um juiz, por exemplo, para decidir se podemos ou não adotar uma criança ou tirar a licença.

E gente, pedimos o casamento no civil na lei, não na igreja, o que é completamente diferente, e como falado no texto da semana passada, o Brasil, sendo um país laico, deveria conceder os mesmos direitos para todos os casais. A união civil não passa de um contrato estabelecido pelo Estado, não concede os mesmos direitos do casamento para todos os casais. E colocar o casamento gay como algo diferenciado, é um retrocesso, como na época em que negros e brancos não podiam juntar suas escovas de dente.