Em um momento no qual todos esperavam um retorno do partido ao seu berço, longe da direita, o partido só mostra mais politicagem e falta de...

Quem és tu, PT?

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Em um momento no qual todos esperavam um retorno do partido ao seu berço, longe da direita, o partido só mostra mais politicagem e falta de coragem


Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação.

Desde os anos 80, o PT talvez seja a sina, o carma e a musa da esquerda brasileira. Ou parte dela. Primeiro, como símbolo da luta trabalhista, de uma guinada ao “socialismo” (mesmo que moderadíssimo – se é que isso existe –, como visto algum tempo depois, com políticas centristas), de uma liderança sindical no poder executivo, algo impensável naquele momento, ainda mais em um Brasil pós-ditadura militar.

Depois, como uma real possibilidade do país se ver, pelo menos em partes, longe de políticas essencialmente neoliberais, como as privatizações, ou que atingissem aos direitos trabalhistas. O PT era a esperança de um povo que até ali era miserável, tanto em questões econômicas como também de amparo.

Muito foi feito, admitamos. Lula foi um grande presidente, como ícone e gestor. Soube articular, mesmo que não seguindo os preceitos mais dignos da moral, seus apoios e o que era necessário para fazer o que queria. Fez. E muita gente gostou, elogiou, abraçou a ideia. Muita gente não – muitas vezes porque incomodava o próprio bolso. Ou a própria ética.

Depois veio Dilma, a sucessora forçada de Lula, que se viu sem opções para seu trono. O PT continuando na área, com o slogan seguindo literalmente à risca o que estou expondo: “Renova a esperança”. Era a expectativa de todos – inclusive a minha, mesmo com alguns pés atrás.

E Dilma Rousseff se mostrou uma má administradora. Isso foi claro. Mesmo com sua honestidade, sinceridade e toda a sua personalidade e entusiasmo. E todas as suas péssimas decisões enquanto presidenta, acrescentadas à sua grande teimosia e incapacidade de articulação, permitiram aos “cobrões” de sempre, e pra sempre, enxergarem uma bela estrada até o poder.

Claro, todo o processo de volta aos 90 (80, 70...) e a iminência de se perder todo o pouco que o PT fez e podia fazer, não ocorreu antes do próprio PT fazer isso. O Partido dos Trabalhadores se tornou de centro, e nos últimos anos tem virado, deliberadamente, as costas para aqueles que os puseram e os mantiveram no poder. Não estou dizendo que a vida de Dilma enquanto chefe do Executivo foi fácil – e ela até impediu coisas piores de acontecer –, mas não pode se considerar como “governo de esquerda” uma gestão que enriquece banqueiros, que faz conchavos cada vez mais profundos com empresários, e que vende a alma tão barato a outros sanguessugas, como tem ocorrido nos últimos 6 anos.

E com o Golpe de Estado quase sacramentado, a posição do partido e da presidenta quanto à situação são absolutamente deploráveis. Primeiramente, em um momento em que todos assistiram aos mesmos ratos com que o PT se juntou, unindo-se para abocanhá-lo, é decepcionante não ver o partido se voltar para aqueles que sempre estiveram ao seu lado. Não mudaram as políticas de direita, não abraçaram os movimentos sociais e a ruas, não tentaram nada.


Foto: Divulgação.
Foto: Divulgação

Onde está a caminhada pelo Brasil que Lula prometeu fazer logo depois que foi tomado de assalto pela Polícia Federal? Dilma, então, balbucia aqui e ali um tímido “É Golpe!” em reuniões mais, digamos, particulares e intimistas, mas quando chega à ONU, frente a líderes mundiais, cujos países vêm denunciando o atentado contra a democracia que o país vem sofrendo, a presidenta recua com um discurso frouxo e broxante.

Quem vem defendendo a democracia e pedindo a saída dos arquitetos do Golpe (Cunha, Temer, Mendes etc.) é a própria esquerda contra a qual o PT virou a face. E não me refiro àqueles que vivem pensando fora da caixinha e bradando por causas absurdas. Posso até mesmo citar aqueles que só queriam uma reforminha no sistema em um cantinho ou outro.

É de conhecimento pleno de quem exerce o senso crítico de que Michel Temer e sua trupe irão sucatear o país. A tal ponto que as pessoas irão sentir falta do PT. Será essa omissão uma estratégia para vir forte nas eleições de 2018, como contraponto a um Governo que, apesar de apoiado por diversos setores influentes da sociedade, consegue ser mais desastroso ainda – ou em eventuais Eleições Gerais antes disso?

Se sim, o PT mostra o que se tornou. Mais um dos peões desse jogo de xadrez que começa e termina dentro do Palácio, e que em nenhum momento lembra das ruas e de seu povo – apenas quando é conveniente. É o touro que se finge de morto frente ao desalmado toureiro para se vingar em seguida, e não o que luta até a morte e busca a vitória apenas pelo fato da causa ser nobre e muito maior do que o triunfo em si. A esperança que antes só aguardava sua renovação, agora aguarda a eterna guinada à esquerda que nunca saiu e nem deve sair. Não esperançou, esperou. O vermelho desbota. Do PT e do Brasil.

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