Diante de uma das maiores crises institucionais da nossa história, somente o impeachment não irá resolver: só o povo pode recolocar o Brasi...

Só novas eleições podem tirar Brasília do atoleiro - e nos dar alguma esperança

Por | 17:04:00 Deixe um comentário
Diante de uma das maiores crises institucionais da nossa história, somente o impeachment não irá resolver: só o povo pode recolocar o Brasil no caminho da normalidade

Dupla Dilma-Temer não conseguiu protagonizar um governo de unidade, levando o país à falência política; ruptura era desastre anunciado (Foto: Romério Cunha / Página de Michel Temer no Flickr)
Depois de 24 anos, o Brasil voltou a testemunhar a sua Câmara dos Deputados aprovar o que muitos consideram como um dos mecanismos mais graves permitidos pela Constituição: o impeachment. Foram quase dez horas de sessão, e uma sequência bizarra, e quase surreal, de manifestações destemperadas daqueles que, teoricamente, deveriam ser os representantes do povo - mas que pareciam, na verdade, representantes de suas famílias e de Deus, a figura mais citada nos pronunciamentos.

Não foi à toa que muitos ironizaram as justificativas de voto da enorme maioria dos 367 deputados que votaram a favor. Quem tivesse que presumir do que o processo se tratava, somente ao ouvir os porquês dos votos "sim", iria concluir facilmente que a presidente Dilma deve ser afastada por não gostar dos filhos e netos dos ilustres deputados. Ou porque ela não é, digamos, muito "parça" de Deus. Complicado, não?

Por outro lado, muitos dos 137 votos contrários também fizeram jus à cegueira radical com que o processo tem sido analisado. Os governistas seguem batendo nas mesmas teclas: Dilma é vítima, e o impeachment é um golpe disfarçado. Como levar um dos lados a sério?

Pessoalmente, apoiei a eleição de Lula 1, Lula 2, Dilma 1 e Dilma 2. Militei pelo PT, partido ao qual fui filiado de 2004 a 2014, em duas dessas quatro eleições, e na última o meu voto foi mais contra Aécio do que a favor de Dilma. Apesar disso tudo, não compartilho da tese de golpe - afinal o processo está legalmente estabelecido e seu mérito não foi julgado. Não há ilegalidade nas ações dos denunciantes, Hélio Bicudo e Janaína Paschoal. Sequer há erros regimentais na condução do processo pela odiosa figura de Eduardo Cunha - por mais corrupto que possa ser, o presidente da Câmara conhece o regimento da casa, e sabe usá-lo como ninguém.

No entanto, a legalidade do processo não o torna isento do julgamento moral. E é nesse ponto que defendo a inocência de Dilma. As práticas denunciadas no processo de impeachment podem ser condenáveis, porém não são ilegais. Poucos são os que conseguem encaixar, sem sombra de dúvidas, os créditos suplementares assinados pela presidente, bem como as pedaladas fiscais, dentro de um dos artigos que listam os crimes de responsabilidade previstos na lei. Todas as tipificações dependem de uma análise subjetiva das ações de Dilma, para que se justifiquem. E para mim, isso é o mesmo que torcer a lei até que ela se encaixe no cenário desejado pelos seus opositores.

Engana-se quem acredita genuinamente que o possível (e a essa altura provável) afastamento da presidente irá resolver algo. Seu substituto, o vice-presidente Michel Temer (PMDB), possui rejeição tão grande quanto à da petista,. Tal apontamento é reforçado pelo fato de o mesmo ter sido beneficiário máximo do projeto de poder que agora rejeita com todas as forças. Incoerência e traição dos tipos que que nunca ficam totalmente impunes ou esquecidas, especialmente em um ambiente sujo como o de Brasília. Tenho sérias dúvidas de que um governo Temer teria sustentação e equilíbrio para tirar o Brasil da lama. Tampouco acredito que o governo Dilma tenha saída ou possa se manter até 2018 sem consequências mais terríveis ainda para o Brasil.

Resumindo: vivemos uma situação ímpar na história do Brasil, pois nenhuma das soluções legalmente possíveis para a saída da crise é boa. Nesse caso, o que fazer? Como devolver ao Brasil um mínimo de estabilidade?

Penso que a solução é aquela que vem ganhando cada vez mais voz e força: o chamado "Nem Dilma, nem Temer", lançado pela Rede Sustentabilidade no último dia 5. Por mais que esteja sendo encampado pela ex-presidenciável Marina Silva, que segundo as pesquisas mais recentes é uma das favoritas em uma possível eleição presidencial (ao lado de, pasmem, Lula), é a única forma válida, a meu ver, de romper com a ordem institucional sem que seja, de fato, um golpe de Estado. Afinal de contas, o poder de escolha do chefe da Nação seria do povo. É, talvez, a única solução possível.

Seria melhor ainda se esse movimento fosse patrocinado também pelo governo, especialmente por Dilma. Não haveria forma mais perspicaz de dizer à população que ela sabe que falhou na condução do país e que deseja devolver a ela o direito de escolher seu futuro. Aí caberia ao povo, e somente ele, pressionar para que a ideia fosse aprovada e novas eleições presidenciais fossem convocadas.

Até mesmo os opositores de Dilma não negam que ela é uma mulher honesta. Talvez, ela apenas esteja no lugar errado, e na pior hora possível. Mas acima de Dilma está o Brasil, e o Brasil merece uma nova chance. A pergunta é: estamos prontos para isso?
Postagem mais recente Página inicial

0 comentários: