Aparentemente, os artistas de hoje  já não fazem mais a hora... p referem esperar acontecer Que vivemos uma crise artística no celeiro...

Quem sabe faz a hora, ou se vira nos 30?

Por | 16:57:00 Deixe um comentário
Aparentemente, os artistas de hoje  já não fazem mais a hora... preferem esperar acontecer



Que vivemos uma crise artística no celeiro nacional todos já estão cansados de saber. Talvez os maiores alvos sejam a música e a dramaturgia, mas esse assunto não pode ser o foco em um blog de política, entretanto, o que venho questionar é a falta de envolvimento e engajamento da classe artística no momento delicado que o país enfrenta.

Se em 1978, Renato Russo lançava a pergunta “Que país é esse?” em uma música com a sua letra pra lá de política, hoje fica cada vez mais difícil encontrarmos artistas que se comprometam e não tenham medo de perder “likes” por tomar um partido, desculpe o trocadilho, com a situação do Brasil.

Sejamos justos a aqueles que representam a arte como de fato eu enxergo que ela deva se posicionar, criticando, e não se calando só porque querem aparecer no especial de natal do Roberto Carlos, que inclusive fez parte da Jovem Guarda na época da ditadura, grupo que servia de exposição para alienar e divertir a sociedade do espetáculo que estava sendo formada pelos militares.

O maior exemplo, acredito eu, seja Monica Iozzi que surpreende aquele que vos escreve de forma muito positiva com seus tweets. Monica trabalhou alguns anos no programa CQC, da Band, onde ela era repórter política, portanto, vivia tentando entrar no planalto e no congresso. O CQC era proibido de adentrá-los para poder fazer algumas perguntas um tanto quanto ”agressivas” a aqueles que trabalham, ou deveriam trabalhar, no âmbito político brasileiro.

Pois bem, Monica transferiu-se para a Rede Globo onde afastou-se desse segmento e seguiu um caminho como atriz e apresentadora. Todos sabem que artistas globais costumam ser bonecos de cera que procuram evitar situações que possam sujar sua imagem, e é aí que Monica Iozzi me surpreende, por exemplo ao retweetar de Mauricio Stycer a seguinte frase: “Globo, Record, SBT, Band e RedeTV! Ignoram pronunciamento de Dilma. Gazeta exibiu trechos ao vivo.”  Uma posição que até poderia lhe custar o emprego na emissora.

Mesmo com uma possível intimidação da sua contratante, não pestanejou em tweetar, um dia depois da votação na Câmara dos Deputados pela abertura do processo de Impeachment da presidenta Dilma Rouseff, a seguinte frase “Ver @MichelTemer já se comportar como presidente é nojento, mas esperado. Revoltante é a imprensa já analisar os “possíveis” ministros.” Por esses e outros tweets, que demonstram sua coragem em defender seu direito de expressão, é que destaco Monica Iozzi como uma das artistas brasileiras que tem meu singelo respeito.

Outro artista que sou fã de carteirinha é Gregório Duvivier, que aparentemente defende um ponto de vista mais esquerdista e mesmo assim tem uma coluna no jornal Folha de São Paulo, que é visado como um jornal com uma diretriz de direita. Gregório talvez me surpreenda um pouco menos que Monica Iozzi pelo simples fato de ser praticamente “autônomo” na visão de que ele é um dos fundadores de um dos maiores, se não for o maior, portais de humor, o Porta dos Fundos. De certa forma, sua liberdade para criar fica mais ampla por ter a seu dispor um canal midiático com mais de onze milhões de inscritos que seguem fielmente o grupo humorístico.

Claro que essa visibilidade toda tem seu lado “ruim”, principalmente em um momento onde o país começa a levar as discussões políticas com fanatismo, como se estivessem discutindo futebol ou religião, e a polêmica começou assim que foi divulgado o vídeo “Delação” que faz uma crítica na forma duvidosa que a polícia federal rege as suas investigações. Para o orgulho deste editor, não só Gregório, como o Porta dos Fundos, bancaram o seu posicionamento e com humor, o que melhor sabem fazer, responderam com o vídeo “Reunião de emergência 3” onde de forma sarcástica brincam com a maior crítica que receberam, o fator X do discurso da maioria, aquela palavra que me incomoda particularmente “vendidos”.

Gregório também postou um vídeo em sua conta particular, um dia antes da votação na Câmara dos Deputados, que de forma inteligentíssima mostra o ponto negativo do Impeachment, ou seja, são quase doze minutos falando de Michel Temer, que provavelmente tomará posse caso Dilma deixe o poder. Gregório já disse em entrevista que tem maconha plantada em seu quintal na espera da polícia ir prendê-lo, claro que é uma forma de protesto perante a legalização da maconha e mostrar como a lei funciona com base na sua classe social e racial.

É um artista que escreve, atua e tem a preocupação de se politizar e demonstrar sua posição seja no Porta dos Fundos, na Globo, na Folha de São Paulo ou em entrevistas nacionais e internacionais.

A atriz Cássia Kis teve seu momento de se vira nos 30 no próprio Faustão, mas independentemente de sua posição ela merece estar nesse texto por ter feito uma cobrança correta, porém em lugar e momento inapropriado. Eu nunca havia visto a atriz falar sobre política em qualquer outro lugar, mas em momento delicado do país ela decide "por a boca no trombone", o programa estava ao vivo no mesmo dia que acontecia uma manifestação contra o governo, dia 13/12/2015.

O apresentador Faustão achou correto em uma entrega de prêmio anual dar esse espaço aos artistas e Cássia o fez emocionada mesmo, particularmente eu não gosto desse tipo de exposição onde o artista solta a bomba apenas para ganhar aplausos e depois volta a se calar, isso sim é se virar nos 30. No mesmo programa Alexandre Nero e Tonico Pereira retrucaram a atriz, mesmo que desmintam. Um, pedindo que as pessoas se informassem mais e o outro, fazendo uma crítica a Câmara dos Deputados que seria em sua visão o verdadeiro problema do país. Alexandre Nero tem o costume de falar sobre política em sua rede social, porém de uma forma bem branda e até um pouco ensaboada, muito diferente, por exemplo do seu companheiro de profissão Wagner Moura que muitas vezes sofre com a sua posição “petista”.

Podemos ver que no meio dos atores temos até uma resposta interessante, embora não esteja cem por cento em ligação para formar um elo que mude algo, devemos destacar o embrião positivo que nasce com essas posições e discussões. Já no cenário musical, o buraco é muito mais embaixo.

Se na época da ditadura militar tivemos a música fortemente na luta contra o golpe, nos dias de hoje a geração que sucedeu a Chico Buarque, Caetano, Gil e tantos outros, procura-se esquivar quando o assunto é política. Não somente em suas posições, mas são poucas as letras que falam sobre o assunto.

Talvez o exemplo que mais lembrou os tempos de tropicália foi o do cantor Dani Black, que escreveu uma música chamada “O Trono do Estudar” que fala sobre o momento crítico que São Paulo vivia com a tal “Reforma escolar” proposta por Geraldo Alckmin. Estudantes ocuparam escolas estaduais em protesto à medida que visava fechar aproximadamente 162 unidades. Instigado por esse ato da população, principalmente por serem jovens estudantes, o cantor juntou dezoito artistas, entre eles Chico Buaque, Zélia Duncan, Paulo Miklos e Dado Villa-Lobos, para gravarem a música que foi postada no Youtube.

Mesmo sem nenhuma visibilidade televisiva, teve mais de 230 mil visualizações e sem dúvida um engajamento enorme para aqueles que foram lutar por seu mais simples direito, inclusive esse vídeo foi o pontapé inicial para shows beneficentes que foram feitos por artistas renomados nas escolas ocupadas. Porém, isso é muito pouco, mesmo tendo uma causa, uma letra e melodia, uma movimentação artística significativa e principalmente a internet, “O Trono do Estudar” não chegou nem perto de se tornar “Pra não dizer que não falei de flores” de Geraldo Vandré.

Obviamente a causa não era tão grande quanto contra a ditadura, isso temos que ter em mente, mas o problema é que se voltássemos a 1964 com a realidade artística que temos hoje, eu tenho receio do resultado que teríamos. Muitos dizem que precisasse de um vilão para nascerem os heróis, mas o que fazemos quando nossos heróis morreram de overdose e AIDS?

Existem artistas que se posicionam, o problema é que não têm organização, estão cada um olhando para sua programação de shows e nada mais importa. Todos deveriam se juntar para ser a voz do povo, para ser o estopim da mudança, não só rostinhos bonitos. Suas músicas deveriam fazer as pessoas pensarem, refletirem, não servir de enfeite na abertura da novela.

Vou ser justo e dizer alguns nomes que usam a crítica política em suas músicas, porque esses também merecem nossa atenção, como Fabio Brazza e Mc Garden que fizeram a música “Geração de Pensadores” jogando muitas verdades em nossa cara, o segundo tem o propósito de criticar o governo em muitas músicas. Temos Gabriel Pensador, algumas letras do Forfun (banda que já não existe mais), Criolo...

Fiz o esforço máximo que pude para lembrar desses artistas e foi bem difícil, caso você leitor saiba de algum artista escreve aí nos comentários, porque me entristece muito ver que conseguiram calar a classe daqueles que deveriam ter voz ativa! “Pai, afasta de mim esse cálice”.

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